Claudia Lins
A Cia Teatro Livro Aberto, criada pela fada da literatura para infância Sylvia Orthof, que completaria 80 anos de idade neste 03 de setembro, há 27 anos espalha poesias, risadas, fantasias e muitas histórias por esse país.
Com 152 textos publicados numa carreira meteórica na literatura infantil, se levarmos em consideração que Sylvia Orthof começou a escrever livros com 48 anos e morreu aos 65, sua obra pode ser considerada altamente recomendável para crianças e adolescentes de todas as épocas, embora seus textos não circulem com a mesma força de sua importância e contemporaneidade. Ainda existem muitos leitores a serem conquistados, educadores que precisam ser apresentados a incrível obra dessa fantástica escritora, e por isso, o Cia Livro Aberto, continua adiante, levando espetáculos para temporadas nas escolas, maratonas da rede Sesc, jornadas literárias.
Rendeira de uma intensa, Sylvia escrevia todos os dias, imaginando histórias que ninguém ousava imaginar. Histórias de tias destrambelhadas, bruxas atrapalhadas, luas gordas ou fininhas, ventos ventosos e fadas fofas.
“Andar andei
Por muitas terras plantei
a semente do sonhador”
Se eu me for, vou de bagagem
Sem ter mala e compromisso
Vou de anjo sem ter asas,
Vou morando sem ter casa,
Vou medir o infinito”
E foi assim, num dia desencantado de 1997, que Sylvia Orthof fez as malas e partiu. Foi aprontar magias no céu das histórias.
Dias antes, enquanto enfrentava uma árdua batalha contra o câncer, ainda produzindo seus textos e acompanhando os ensaios de Zé Vagão da Roda Fina, escreveu um lindo poema, que foi lido para os amigos no dia de sua despedida.
Post Scriptum, o último poema, é parte do espetáculo que o Cia Livro Aberto exibirá no seminário em homenagem a Sylvia, em setembro, no Rio de Janeiro. Ver este texto musicado foi ao mesmo tempo um privilégio e uma das emoções mais bonitas que a literatura me proporcionou.
“Quando um livro se adromece
Se termina, se esquece,
O tempo vai e se avoa!
Das palavras fiz um ninho
E cantei desafinado,
Mas o canto, mesmo errado,
É cometa em céu da boca
Cometi esse escrito,
Ai, doideira e maluquice
Fiz cochico, diz-que-disse,
Me virei pelo avesso!
Todo fim é recomeço,
Todo pouco é o bastante,
Toda linha de escrita
É um traço de horizonte!
Já é tarde, vou me embora
Toda a vida é tão memória de mil maneiras contada!
Só ousei certa saudade
Que passou no que me lembro.
Toda estrada é faz de conta,
Por isso que a poesia apronta
Sempre uma paisagem.
Boa Viagem!”
FOTOS: Observatório: Álbuns
Veja imagens dos espetáculos Cia Teatro Livro Aberto!
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