Por Claudia Lins
Seu ritmo é eletrizante e contagia a todos que estão a sua volta. Sheila Maluf, responsável pelo comando do maior evento literário gratuito do estado de Alagoas, é conhecida entre editores e livreiros como a mulher que faz a Bienal do Livro acontecer. É ela quem coordena pessoalmente a agenda de todos os 80 lançamentos da Editora Universitária de Alagoas, sem contar com os 315, programados para ocorrer simultanemente durante os 10 dias de feira, seminários e palestras. Nessa entrevista, concedida às vesperas do início da maratona literária, ela nos fala de seus planos para promoção do livro e da leitura muito além dos limites de Alagoas, dos desafios para divuglar o catálogo Edufal, e sobre a missão recentemente assumida junto a Associação Brasileira das Editoras Universitárias, Abeu, entidade da qual agora é vice-presidente.
Mundondo Leitura – A Bienal é sem dúvida, o maior evento de credibilidade no universo da literatura em Alagoas. Como você avalia o crescimento dos últimos anos? E o que tem sido decisivo para o sucesso do evento?
Sheila – A credibilidade do evento junto ao mercado livreiro deve-se ao fato de cumprirmos tudo o que oferecemos. A notícia que a Bienal do Livro de Alagoas “vale a pena” tem corrido de forma muito positiva entre os expositores que vivem em feiras de todo o Brasil. O fato de a Bienal se preocupar em oferecer divertimentos e atrações em prol do livro e da leitura, sempre de forma gratuita, ajuda bastante para o sucesso do evento.
Mundo Leitura – Pela primeira vez, a Bienal terá um espaço inteiramente dedicado à literatura infantil. Fala um pouco sobre essa novidade.
Sheila – Em uma parceria construída com muito carinho com o Instituto Pró-Livro, por meio da gerente de projetos Zoara Failla, e apoio do SESC conseguimos ter na V edição da Bienal o Túnel de Livros, onde as crianças entrarão dentro de um livro, percorrerão suas páginas, sempre acompanhadas por atores fantasiados e, em alguns momentos, se sentirão os/as protagonistas da história. Trata-se de uma estrutura grande e trabalhosa, mas que encantará as nossas crianças, tentando seduzi-las cada vez mais para o mundo dos livros. Além disso, ainda teremos o Palco “Livro Aberto” e a “Oficina do Escritor”, também voltada para o público infantil.
Mundo Leitura – A Edufal estará lançando quantos títulos e como foi preparar a agenda de lançamentos dos autores?
Sheila – A Edufal estará lançando 80 títulos inéditos. A agenda de lançamentos é trabalhosa, pois são lançamentos coletivos diários e alguns em mesas específicas, mas o importante é que isso mostra que a produção cultural em Alagoas está muito viva, pois na Bienal toda teremos mais de 315 lançamentos, considerando os lançamentos de cada estande.
Mundo Leitura – Como você vê o crescimento do mercado editorial universitário e quais os caminhos traçados pela Edufal para ampliar a distribuição e visibilidade de seus títulos no cenário nacional?
Sheila – O próximo passo da Edufal agora é dar continuidade ao processo de internacionalização, mas faremos isso também no sentido inverso, pois até agora negociamos cessão de direitos de autores estrangeiros para traduzirmos em nossa língua, e agora estamos com estratégias para traduzirmos os nossos autores e os lançarmos também no exterior. Para isso, contaremos com o Ministério da Cultura que está dando muito apoio para traduções de autores brasileiros em feiras internacionais que acontecerão em diversos países que homenagearão o Brasil nos próximos dois anos.
Mundo Leitura – As palestras, debates e oficinas de formação, que também atraem um público bastante diversificado, são o grande diferencial desse evento literário, uma programação que você faz questão de cuidar pessoalmente e guarda a sete chaves mantendo o suspense até chegar a hora certa de anunciar para o público. Fala um pouco do que as pessoas vão poder conferir em 2011?
Sheila – O maior diferencial da nossa Bienal é que trata-se da única Bienal do Brasil coordenada por uma Universidade, por meio da sua editora. Isso faz com que tenhamos um viés um pouco mais acadêmico, já sendo discutido esse diferencial a nível nacional quando se referem à Bienal de Alagoas. Quanto a guardar a programação a sete chaves, como você disse, é porque tenho muito medo de anunciar atrações que não aparecem. Isto faz com que as feiras e as Bienais caiam em descrédito. Assim mesmo, com todos os cuidados que tomo, muitas vezes mesmo com as passagens emitidas, temos alterações e cancelamentos.
Mundo Leitura – Você acaba de assumir a Vice-presidência da ABEU, o que representa essa entidade e qual o desafio das editoras universitárias na promoção do livro e da leitura no país?
Sheila – A ABEU é a Associação Brasileira das Editoras Universitárias e congrega mais de cem editoras em todo Brasil. Acabamos de tomar posse na Bienal Internacional do Rio de Janeiro, juntamente com o presidente da Fundação Unesp (SP), prof. José Castilho Marques, e temos muitos desafios e planos até setembro de 2013, quando terminaremos a nossa gestão. O objetivo maior é sempre a promoção do livro e da leitura, mas a internacionalização da ABEU está entre as nossas principais metas, pois achamos muito importante também fazermos nossos autores brasileiros serem conhecidos no exterior. Pela primeira vez, na Feira de Frankfurt (a maior feira de livros do planeta), em 2013, o Brasil será o país homenageado e a ABEU terá um estande próprio e desde já estamos trabalhando para fazer o nosso melhor na Alemanha em 2013.
Mundo Leitura – Toda Bienal você se envolve em mil atividades, planeja e coordena o evento, é considerada pelos editores alguém que está presente durante os 10 dias de feira. Já tem planos para 2013?
Sheila – Não, no momento só quero que a próxima Bienal consiga atingir as metas que nos propusemos e que a comunidade alagoana desfrute com muita alegria do que estamos tentando proporcionar. Afinal, são dois anos de trabalho duro para que esses dez dias aconteçam da melhor forma. Acho que só vamos pensar na Bienal de 2013 no dia seguinte que esta edição terminar. De qualquer forma, a solicitação da pauta para 2013 no Centro de Convenções já está feita desde o início deste ano.
Mundo Leitura – Agora falando da Sheila Maluf leitora, como se deu sua experiência individual com o livro? Você tinha exemplos de leitura em casa?
Sheila – No meu tempo de criança, não tínhamos Internet, então a nossa experiência de viver o mundo da fantasia e de conhecer novos horizontes dava-se somente pelos livros. Assim que aprendi a ler, ganhei da minha mãe a coleção completa dos livros do Monteiro Lobato. Minha mãe, meus primos e tios sempre discutiam sobre alguns livros que estavam lendo. Quando fiz o colegial, também tínhamos vários livros para ler. Antes dos 16 anos já tinha lido Leon Tostoi, Émile Zola, Honoré de Balzac entre outros. Impulsionada por ótimos professores de literatura que tive, nasceu uma paixão completa por livros que dura até hoje.
Mundo Leitura ? Sendo educadora, como vê o papel do livro na formação do leitor? E de que maneira as escolas, os governos e as pessoas podem contribuir para que esse despertar para a leitura ocorra cada vez mais cedo?
Sheila – O investimento que as Bienais, de uma maneira geral, fazem para a sedução das crianças, nossos futuros leitores é muito grande. Particularmente, acho que esse investimento tem que ser a soma de esforços de governo, família e escola. Se uma dessas partes não fizer o seu papel poderemos comprometer o nosso objetivo maior que é fazer da pequena criança de hoje um grande leitor do amanhã.