O catártico Celso Sisto

Por Márcio Cavalcanti

Escritor, ilustrador, contador de histórias, ator, arte-educador: Celso Sisto

Luz. Essa palavra tão pequena em sua grafia, mas tão rica enquanto signo semântico, é dos predicados explícitos do escritor Celso Sisto. Nascido carioca e gaúcho pelos desígnios da vida, esse semeador da vontade de viver se disfarça de contador de histórias, levando a magia do mundo das letras para o cotidiano das pessoas que, reféns da turba das grandes cidades, têm a surpresa e o privilégio de conhecer a maravilha que faz morada em seus escritos. Celso Sisto é luz, luz provocando catarse naqueles que o lêem, que o vêem, que o ouvem.

Numa passagem rápida por Maceió, qual pardal que pousa em nossas amendoeiras nas tardes primaveris para anunciar seu canto, o escritor lança o seu livro “Continhos suspirados com poesia para depois das cinco” (Ed. Paulinas, 2011), durante a V Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Ali, o autor conta que sua obra sofreu a influência de uma mudança brusca que precisou fazer em sua vida: deixar a agitação do Rio de Janeiro e ir para a encantadora Gramado, no Rio Grande do Sul. “Aquilo foi a grande fuga da minha vida. Enquanto escritor, eu precisava morar numa cidade de brinquedo, e o fiz pensando nessa criança que continuo alimentando dentro em mim. Eu não sufoquei a minha criança, é através dela que me comunico com as pessoas”, revela.

Continhos suspirados com poesia para depois das cinco
Para Sisto, “Continhos suspirados com poesia para depois das cinco” surge num momento ímpar para as novas manifestações

Autógrafos: dedicação em arabescos

da Literatura Brasileira: além das profusas transformações causadas pela mudança no habitat do escritor, que passou a absorver e refletir as energias da Serra Gaúcha, o momento literário brasileiro do micro-conto é bastante favorável.

“A mudança mexeu muito comigo naquela época. Senti a necessidade de deixar um pouco de lado o cenário da fantasia infantil para tratar mais do dia a dia das pessoas que convivem juntas, a família. O texto tem o caráter denunciativo, pois trata das prisões da vida cotidiana, sobretudo da vida familiar – as explorações que a mulher sofre por parte do marido, a dependência dos filhos. Todas essas coisas confluem na formação do imaginário do jovem leitor, público ao qual está voltado esse novo livro”, destaca.

E em se tratando de público jovem, Celso Sisto acredita ser este um grupo que gosta de decifrar enigmas, de forma que defende a oferta de uma literatura rica para os jovens e adolescentes, tratando, sim, da cotidianidade desses personagens sociais, mas com uma linguagem simbolicamente imbricada.  “Os textos não são facilmente decodificáveis. É preciso parar e pensar. Trata-se de uma linguagem poética, diferente, inusitada”, pontua.

"Jovens precisam de Literatura com linguagem poética, diferente, inusitada. É preciso parar e pensar.", Celso Sisto

Viver de arte

“E um privilégio poder viver de arte no Brasil”, diz o escritor, comemorando os seus 56 livros publicados. “Que coisa mais louca num país tão diverso”, complementa. O autor ressalta, contudo, que sua atuação não se resume à publicação de livros. Além desse ofício, Sisto integra trabalhos que transformam as histórias grafadas nos livros em cenas vivas nos palcos, é o teatro do livro, a Literatura em encenação. Dessa experiência nasceu há 20 anos o grupo Morundubetá (RJ), permanecendo em atividade atualmente. O escritor é também professor e forma outros contadores de histórias.

“Adoro a sala de aula, o contato com os alunos, o exercício docente de formar novos mediadores da leitura, tudo isso me alimenta”, revela Sisto que prioriza uma formação docente pautada no diálogo entre a Literatura e as Artes em geral, na responsabilidade de atuação e na valorização do profissional contador de histórias.

Humanização da leitura
Celso Sisto entende que o contato com a literatura deve extrapolar as barreiras físicas das salas de estudo, das bibliotecas. A contação de histórias deve ser uma atividade profissional itinerante, instalando-se nos mais variados espaços. “A desescolarização da leitura e a mundialização da contação de histórias são o foco do nosso trabalho. É preciso levar histórias às pessoas nos mais variados lugares. Eu já trabalhei com grupos de alunos contando histórias em  supermercados, em terminais rodoviários, e até em banheiros públicos”, conta.
O autor diz que essa é a maneira de fazer a diferença na vida de quem está num dia atribulado, no meio da cidade conturbada, estabelecendo contato com os passantes, com as pessoas em sua interface mais afetiva, pegando-as de sobressalto. “É um trabalho de sedução para a Literatura”, afirma.

Enquanto posa para uma, duas, várias fotos, Sisto cumprimenta, abraça, celebra a vida

Celso Sisto: amor pelas pessoas

com seus leitores na singeleza de uma tarde de lançamento do seu novo título. O autor autografa cada livro, qual criança que faz um desenho para presentear alguém que gosta. Assim, não se preocupa com o relógio e se esmera em traçar letra por letra, compondo arabescos detalhados, ricos, delicados, reveladores de que Sisto gosta mesmo é de pessoas, e vive para encher suas vidas de literatura, de alegria, de luz.


7 comentários

  1. Incrível conhecer mais desse autor a partir de um texto tão bacana quanto o seu, Márcio. Parabéns, habitante do Planeta Mundo Leitura!!!

  2. Márcio!
    Que texto mais bonito o seu! Fiquei emocionado com suas palavras! Não por vaidade não! É que você escreve bem pra caramba! Você me traçou melhor do que eu realmente sou, pode ter certeza! Agradeço profundamente o carinho e as belas palavras!
    Abraço grande, grande!

  3. Matéria maravilhosa e mais que merecida sobre meu querido amigo Celso Sisto. Parabéns por mais este trabalho de qualidade cheio de carinho pelas pessoas , de apreço pela arte e pela vida! Beijão!

  4. Parabéns Márcio!
    Soubeste tão bem descrever a essência do Celso, este meu amigo Iluminado, que tanto faz pela leitura e pelos livros e como escreve tão bem…Você soube descrever esta paixão que esta incrustada neste ser chamado Celso Sisto! Mais uma parabéns e dizer que foste bem feliz nas colocações que fizestes.
    Abraço
    Clarice

  5. Pela primeira vez em Alagoas, encantando os contadores de histórias…
    Como coordenadora do Proler Maceió, quando eu planejava o VII Encontro Estadual do Proler,na sétima edição, com o eixo temático: A Biblioteca e a arte de contar histórias: um caminho para uma sociedade leitora. Não pude deixar de pensar em Celso Sisto. Tivemos sorte de nesse período sua agenda estar livre. Assim, fico feliz ao saber que a Secretaria de Cultura do Estado, por meio da Biblioteca Pública Estadual, trouxe esse grande escritor… narrador de histórias… para um momento enriquecedor entre os profissionais do livro e a leitura de Alagoas.

  6. Maravilha de reportagem sobre o querido escritor Celso Sisto que é um grande mestre para mim aqui no sul. As tuas palavras definiram intimamente o escritor e seus escritos com muita sensibilidade. Parabéns!

  7. Márcio Cavalcanti, que texto maravilhoso esse que diz muito e muito quem é CELSO SISTO. Palavras tuas que demonstrou com muita sensibilidade esse escritor fabuloso que deixou a agitada cidade do Rio de Janeiro para morar numa cidade de sonhos e tranquilidade que é Cidreira no Rio Grande do Sul. Parabéns!!!