Jonas Ribeiro comemora o lançamento de seu centésimo título, com palestras e show para educadores, dentro da programação da V Bienal Internacional do Livro de Alagaoas
Claudia Lins
Fotos: Karim Scharf
Quem o conhece logo se encanta com sua energia e alegria contagiantes. Em cima de um palco, ele transforma histórias num show a parte e é capaz de fazer da roda de leitura um acontecimento vivo. Carregando baús onde moram mágicos personagens, viaja o Brasil de um canto a outro, sempre envolvido numa maratona de apresentações e encontros com leitores, e quando pensamos que já vimos tudo, lá vem ele com mais uma novidade! Dessa vez é o livro número 100, O esconderijo das Vontades, editado pela Callis, que o autor lançará em Maceió, encerrando a programação da Bienal de Alagoas. Nesse bate-papo travado via internet, Jonas Ribeiro, nos conta sobre a deliciosa aventura que é viver de livros, suas andanças espalhando as sementes do amor à leitura, ócio criativo e sua alma nordestina.
Mundo Leitura: Você está completando 100 livros publicados, um recorde se pensarmos na realidade do nosso país. Como foi chegar a essa marca de títulos e que tal olhar para o início de sua trajetória, revendo o Jonas que sonhava viver de livros?
Jonas: Tive o privilégio de saber cedo o que queria fazer profissionalmente. Sabia claramente que gostaria de viver dos livros, para os livros. E fui! Com a cara e a coragem. Na época, nem me dei conta de que estava correndo um grande risco, apenas mergulhei na Literatura. Poderia dar certo como dar errado.
Felizmente, deu certo. Sinto que o tempo caminhou ao meu lado, que não precisei correr contra ele. E como cheguei a cem livros? Sei que um livro foi puxando outro, fui terminando um e começando outro, envolvendo-me demais com personagens, leitores, ilustradores, editores, que a roda não parou mais de girar: ganhou velocidade.
Mundo Leitura: Fale um pouco sobre o centésimo livro, que história você nos conta nesse novo trabalho?
Jonas: Ele se chama “O esconderijo das vontades”. Foi publicado pela Callis Editora e ilustrado pela Laura Michell, uma ilustradora argentina. Saiu em brochura e em capa dura. Está lindo, um sonho. Conta a história das pessoas que guardam as vontades dentro de si, do padeiro que sente vontade de fazer um pão mais macio, da telefonista que sente vontade de ser locutora de rádio, da bióloga que sente vontade de morar na Amazônia, do pianista que sente vontade de tocar com uma orquestra e assim por diante. Basicamente, a história estimula o leitor infantil e adulto a praticar a coragem e a olhar para dentro de si.
Mundo Leitura: Além de produzir intensamente, você viaja muito cumprindo maratonas de contação, visitando escolas. A impressão que temos ao te ver brincando com as palavras, é que você se diverte muito, o tempo todo. Como consegue conciliar o tempo da criação com o do contador?
Jonas: Em março deste ano, completei 1.000 escolas visitadas. Tenho de concordar com vocês: é mesmo uma maratona. Exige disposição. Procuro fazer exercícios e me alimentar e dormir bem para aguentar o rojão. Divirto-me bastante. Geralmente, o cansaço é mais físico que emocional. Como sou disciplinado, mantenho uma produção regular, principalmente porque reservo um trimestre só para a produção, os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e a primeira quinzena de março.
Mundo Leitura: E qual o tempo em sua agenda para o ócio criativo, quando se permite parar e o que costuma fazer nesses momentos?
Jonas: No tempo de ócio, faço nada, encontro-me com os amigos cúmplices e estudo piano. No segundo semestre, o ócio criativo fica mais escasso, mas ele sempre aparece, em alguma brecha da agenda.
Mundo Leitura: Nem é difícil imaginar que nesse exato momento um ou mais argumentos passeiam por suas ideias para logo, logo ganhar as páginas de um novo livro. Quando termina uma história, já está pensando na próxima?
Jonas: Só consigo escrever quando a burocracia está toda em dia. Geralmente quando tenho vários dias disponíveis para o ócio e estou desacelerado. Daí, as ideias ganham asas. Os escritores costumam viver inquietos, sempre com um caldeirão borbulhando na cabeça. O tempo nos ensina a relaxar na inquietude, a encontrar a paz em meio ao burburinho de tantas personagens.
Mundo Leitura: Maceió já se tornou um roteiro literário em sua agenda, mas essa é a primeira vez que participas da Bienal do Livro de Alagoas. O que o público pode esperar dessa troca?
Jonas: O público pode esperar declamação de poesias e narração de histórias. Será uma alegria retornar a Maceió. Vocês são amorosos, atenciosos e maravilhosamente hospitaleiros. Tiro o chapéu para vocês. Sinto-me em casa no nordeste. Gosto de brincar que meu corpo nasceu no sudeste e minha alma nasceu no nordeste.
Mundo Leitura: “Colcha de leituras” , ensaio para unir amores e alinhavar leitores, é o tema de sua palestra show na Bienal de Alagoas, e em seus encontros e oficinas, você costuma falar da importância do brincar nos momentos de leitura, do encantamento que não pode deixar de existir nessas horas. Como os educadores e a própria escola podem manter essa conexão viva?
Jonas: As escolas podem manter esta conexão com um bom acervo, com exemplos leitores por parte do corpo docente, e, acima de tudo, pelo dom de comprometer educadores, funcionários e educandos na renovação do conhecimento e na realização de vivências literárias, em verso e prosa.
Mundo Leitura: Comparando a literatura que se faz hoje no Brasil, com a chegada de tantos recursos digitais, novos centros de produção de livros, eventos acontecendo pelo país, gente realizando projetos, criando e incentivando o gosto pela leitura, que momento é esse que estamos vivendo?
Jonas: Sem sombra de dúvida, vivemos um momento de intensa produção e veiculação de informações. Cabe a nós encontrarmos uma medida salutar para a nossa relação com as mídias e as tantas literaturas feitas em território nacional.
Mundo Leitura: O Jonas contador, esse não para, e o leitor, o que anda lendo ultimamente?
Jonas: Acabo de ler “Política para não ser idiota” (Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro, 7 Mares) e já comecei a ler “Manoel de Barros – Poesia Completa” (Leya). Costumo acompanhar a literatura infantojuvenil brasileira. Primeiro, porque gosto e depois para saber e provar o que os amigos andam escrevendo e ilustrando por aí. É raro ficar sem livros novos, mas às vezes, muito raramente, passo uma semana sem leituras, provavelmente por estar escrevendo ou relendo velhos livros que se renovam a cada ciclo.
O Jonas é um eascritor iluminado!
Sou apaixonada pelos livros dele.
O Jonas é um escritor iluminado!
Sou apaixonada pelos livros dele.