Um menino chamado responsabilidade

Por Márcio Cavalcanti

Dois olhinhos encantadoramente negros por trás de um par de oculozinhos quadrados. Apenas um rapazinho de 13 anos, mas que fala e escreve como gente grande. Esse é João Victor Leite Azevedo Régis, autor do livro “Voe com responsabilidade” (Edições Catavento, 2011), lançado durante a V Bienal do Livro de Alagoas, no estande da Secretaria de Estado da Educação.

Segundo o próprio escritor, o livro fala de como deve-se viver aventuras, mas com bom senso. “É preciso ser livre, mas com discernimento do que se vai fazer. Mesmo nas brincadeiras é necessário ter cuidado, ou seja, responsabilidade”, diz João Victor com clareza e vocabulário de um adulto, encarando o lançamento de seu livro com tranquilidade.

 

A inspiração

João Victor conta que seu gosto pela Literatura vem desde pequenino, quando o pai

ia todos os dias buscá-lo na escola e, no caminho de volta para casa, contava-lhe sempre uma nova e bela história. Tantos contos, e tantas imagens fabricadas pela imaginação do menino, descansaram tranquilamente na sua memória até os sete anos de idade.

Escritor nato: primeiros textos aos sete anos

“Aos sete anos eu comecei a escrever os meus primeiros textos, eram textos pequenos, mas neles eu colocava toda a vontade que sempre tive de contar minhas próprias histórias”, revela o garoto e emenda: “A inspiração muitas vezes vem quando estou brincando, quando estou ao computador, ou na hora de dormir. Daí, imagino um personagem, penso numa história e dou vida a esse personagem”, explica o autor.

O pequeno-grande escritor diz que prefere o cotidiano à fantasia. Assim, deixa monstros e fadas apenas como habitantes do mundo da imaginação, para falar de coisas do dia a dia. “Eu prefiro escrever sobre temas como desobediência, valores da família, amizade, encantamentos e desencantamentos da vida”, declara.

 

Desencantamentos da vida…

Segundo a mãe, Rita, João Victor tem uma percepção de realidade mais aguçada que outros garotos de sua idade. “Ele já me falou que sabe o quanto é difícil levar a vida como escritor. E eu falei para ele que é preciso estudar e se preparar para uma carreira que dê condições para ele continuar com seu sonho de escrever. E em resposta ele disse: ‘Então, escrever será só um hobby, não é, mãe?…’ Ele diz que vai ser geriatra”, conta a mãe.

Rita diz ainda que mesmo muito pequeno, João Victor era aficionado por livros. E que, desde que começou a escrever, todos em casa – ela, o pai e as irmãs – dão todo o incentivo. “Peço para as meninas fazerem silêncio quando ele está escrevendo ao computador”, frisa.

Primeiro livro: felicidade

Próximo título

“Voe com responsabilidade”, um livro de contos, é a primeira obra de João Victor, mas o escritor adianta que já está produzindo mais um. “Já mudei o título diversas vezes, mas acho que agora será definitivo. Irá se chamar “Está tudo bem”, é um livro que conta a história de uma criança autista. Nele, eu falo do preconceito e das dificuldades encontradas no dia a dia desse personagem”, antecipa João Victor.

Encerrada a entrevista para esta reportagem, o menino-homem vai embora, deixando os corredores da V Bienal de Alagoas, acompanhado dos pais e das duas irmãs menores – claramente, uma família unida, pais que priorizam a educação dos filhos e participam ativamente do seu desenvolvimento, crianças emocional e intelectualmente estruturadas. Assim fica fácil entender o porquê daqueles olhinhos negros tão brilhantes, curiosos, ávidos por Literatura.