Claudia Lins
“O caminho das histórias é mágico sem volta. Afinal, voltar pra quê?”
O autógrafo no livro O Ovo Amarelinho da Galinha do Vizinho, dado nos bastidores da última edição do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias, marcou com originalidade a passagem da mineira Rosana Mont’ Alverne por Mundo Leitura. Foi quando a conheci pessoalmente, pois de seu trabalho já tinha lido algumas notícias, enquanto garimpava tesouros literários na internet. Mas aquela frase, que guardo junto com o livro, ficou de modo especial nas minhas boas recordações daquele evento, e só quem na vida escolheu caminhar pelo mágico universo da leitura, provavelmente compreenderá a dimensão especial dessas palavras autografadas.
Um bate-papo informal, minutos antes do pedido para uma entrevista, deu o tom de nosso encontro, marcado por um momento entre leitora e escritora. Conversavámos sobre os desafios das pequenas editoras no mercado brasileiro e Rosana me encantou ao descrever o trabalho realizado a frente do Instituto Cultural Aletria, instituição que entre outras finalidades, realiza formações de contadores de histórias, em Belo Horizonte, cidade onde ela mora.
Encantando com boas histórias
Rosana já havia me impressionado com seu jeito mineiro e envolvente de contar histórias, ao apresentar a trama Baú de Trocas, conto integrante de um livro delicioso, editado por ela e escrito por Marilene Ramos. Sua apresentação, na abertura do simpósio, foi uma das mais marcantes. Então escolhemos falar sobre a magia de contar histórias. Assim começou para valer nossa entrevista.
“O bom contador é aquele que vive a história e faz o espectador entrar no fluxo de imagens que essa trama contém. Você não vê o contador, só vê a história”, define a especialista na arte de contar e encantar plateias narrando histórias.
Rosana se diz contadora, autora, editora e oficineira. A desenvoltura para lidar com personagens e palavras certamente veio do teatro, uma da aventuras criativas de sua existência. Em 95 participou de um festival de teatro em Ouro Preto, contando histórias. Anos mais tarde, redescobriu o caminhar artístico na prática da contação. Na década seguinte, em 2005, fundou o Instituto Cultural Aletria, dedicado a formação de novos contadores, a produção e pesquisa da oralidade. No local, são promovidos cursos, workshops e oficinas literárias.
Seus olhos brilham ao descrever o espaço especialmente projetado para reunir pessoas em torno da paixão pelos livros e pela leitura. “Os banheiros contam histórias, tapetes voadores recriados nas paredes são um convite a imaginação. Lembram as Mil e uma Noites. Próximo a Aladim, uma mensagem provoca os visitantes: lave as mãos antes de esfregar a lâmpada“.
Editora e pesquisadora literária
A Aletria Editora surgiu em 2009, nascida do sonho de produzir literatura para o encantamento. E já chegou ao mercado mostrando disposição para deixar sua marca no cenário da literatura infantojuvenil brasileira. O premiado Bichos, livro com poemas de Ronaldo Simões Coelho, ilustrado por Angela Lago, recebeu o prêmio FNLIJ 2010 de melhor livro de poesia, entrou no catálogo White Ravens 2010 da Biblioteca de Munique e foi finalista do prêmio Jabuti 2010 na categoria melhor livro infantil. Em quase três anos de existência, já editou mais de 25 livros e tem planos de expandir o catálogo.
“O grande desafio das pequenas editoras é conhecer e mapear o mercado, manter foco na linha editorial e na cadeia produtiva do livro”, afirma Mont’ Alverne, que também integra um grupo de pesquisas sobre texto, imagem e letramento literário.
“Estou sempre à procura de ler e entender esse mundo, ligada nas histórias das editoras que admiro. A Aletria está construindo sua história. Estamos atentos e sabemos do longo caminho pela frente. A distribuição e a seleção de textos de qualidade, sem descartar os iniciantes, são nossos desafios. Por isso, qualquer texto que chega a editora é tratado com respeito“, diz Mont’ Alverne, revelando ser quem pessoalmente seleciona e edita os originais encaminhados à Aletria.
A contadora de histórias
A trajetória dos contadores de histórias sempre fascinaram Mont’ Alverne. “O tempo do era uma vez é mágico; é um tempo verbal que só existe no faz de conta, terreno onde temos a possibilidade de resolver nossas angústias por meio das aventuras e desventuras dos heróis”, descreve a autora no capítulo Contos na prisão: um espaço chamado liberdade, texto que integra o livro Contadores de Histórias um exercício para muitas vozes, organizado por Benita Prieto.
Advogada, assessora do Tribunal de Justiça de Belo Horizonte, Rosana já atuou em diversos projetos alternativos voltados ao universo das artes e da literatura, entre eles o Conto Sete em Ponto, constituído de espetáculos mensais de narração de histórias, em Belo Horizonte e Ouro Preto. A convite de um juiz das Execuções Penais, a contadora se lançou ao desafio de trabalhar com detentos do sistema prisional.
Ele a provocou com uma frase de Cecília Meireles para reforçar o convite: “Não faças de ti um sonho a realizar. Vais”.
“Nem preciso dizer que aceitei o convite. Quantas portas se abrem quando nos permitimos entrar na aventura e nos lançarmos com paixão ao nosso ofício!”, diz Mont’ Alverne, na publicação destinada aos contadores de histórias. Assim nasceu o grupo Encantadores de Histórias, que desde de 2004, mobiliza condenados na aventura de contar e encantar a partir das histórias.
Tive o prazer de encontra-la em Araçoiaba da Serra / SP … simplesmente FANTÁSTICA … amei !
Sou contadora de historias na cidade de Contagem MG,Me encantei com seu trabalho, e quero saber mais!! parabens!