Chega ao mercado editorial a revista Alagoas sequencial, publicação da Imprensa Oficial de Alagoas. Embora não seja leitora assídua de quadrinhos, quero me arriscar a lançar alguns comentários sobre o álbum, fruto de um edital pioneiro no Estado. A primeira impressão vem da qualidade gráfica e cuidado meticuloso na edição. Um primor! Dá gosto de ler. Foi o que fiz logo depois de ir ao lançamento.
Explorei as sete histórias em quadrinhos Starknight, Orquídea, Sorte grande, Histórias de Alexandre, A pega, Preto que nem carvão e Menino cuscuz. As produções se diferenciam no traço e na linguagem, bem como na temática. A primeira delas, Starknight, de Mizael Oliveira, impressiona pela carga expressionista dos personagens e a tensão psicológica do protagonista, uma criança escrava. Narrativa e imagem se combinam e apresentam uma complexa teia de interpretação, enriquecendo o aspecto literário da HQ. Na minha opinião, uma das mais bem resolvidas da coletânea.
Sorte grande, de Mateo, é uma adaptação do roteiro homônimo, de Yuri D´Magalhães, um pernambucano já ancorado em Alagoas. Numa linha também psicológica, o personagem Calixto busca construir sua identidade em meio aos fracassos de suas escolhas pessoais. O homem de 50 anos, sem perspectiva, vive numa atmosfera onírica, em que realidade, sonho e pesadelo, sintetizam uma existência amorfa. É interessante perceber como o traço do quadrinista expõe essa busca incessante de uma forma segura de individualidade que inquieta o personagem até o fim da história.
Histórias de Alexandre traz um conto de Graciliano Ramos com a arte gráfica de Daniel Contim. O texto do escritor alagoano é delicioso e faz parte do livro Alexandre e outros heróis, publicado pela primeira vez em 1962, no Rio de Janeiro. O artista, ao que parece, utilizou a técnica da hachura. As sombras recorrentes nas cenas retratam o clima de mistério da narrativa em torno das façanhas vividas por Alexandre que o levaram a ficar com o olho torto. A HQ surge numa boa fase para a escrita de Graciliano que, recentemente, teve a história O estribo de prata, um conto também do mesmo livro, lançada este ano, dentro do segmento infantojuvenil da editora Record.
Pega, de Izael Gomes, e Menino Cuscuz, de Alexandre Azevedo, exploram o espaço da vida rural. A primeira aborda o ponto de vista do vaqueiro que tenta colocar cabresto numa rês desgarrada. O menino Cuscuz, por outro lado, não tem freios, e se lança ao mundo em linhas tortas, associando-se a um bando de cangaceiros. Orquídea, de Michel Alves, explora a temática das expedições militares, com pouca inovação no diálogo e na imagem. Preto que nem carvão, de Amaro Braga, Mariana Petróvana e Janaína Freitas, acerta na temática do preconceito com uma pitada de humor infantil, mas deixa a desejar na qualidade dos desenhos que, assim como Menino Cuscuz, exigem mais exercício prático e amadurecimento dos artistas gráficos.
Após alinhavar minhas impressões sobre as histórias, deixo como sugestão para a reedição de Alagoas Sequencial a inclusão de uma minibiografia dos roteiristas e designers gráficos, assim como indicações das técnicas utilizadas no processo de criação. Essas informações são muito interessantes para os leitores de uma forma geral e, em particular, para crianças e jovens em fase escolar, para aguçar sua curiosidade e motivar potenciais talentos adormecidos.
Para saber como adquirir a revista, acesse: http://www.imprensaoficial.al/index.php/faleConosco
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