Crônica por Severino Rodrigues
Há pessoas que enganam. Há pessoas que mentem. E há pessoas que são más.
O cotidiano anda parecendo cruel. Demais. E essa desumanização nos leva a desacreditar das palavras de confiança. O respeito também anda meio sumido por aí. É uma pena. Basta ler os comentários acerca de determinada notícia e rapidamente se constata que uma guerra se instaurou. Os valores, as opiniões, os preconceitos, as justiças e as injustiças andam se confundindo. E a chave do baú de todos esses males é o desamor. Ah, o desamor… está tão aí que nos sufoca por todos os lados. Acima, vemos alguém que grita e outro que aplaude a fúria ou rebate com mais raiva ainda. Abaixo temos o desdém e o desprezo, o esmagar de quem só precisava mesmo de uma simples atitude de indiferença. Do lado direito, a trapaça. Do esquerdo, a ofensa. Na frente, a mentira. Atrás, a perversidade. O ser humano se esqueceu de que é humano. Mas também não pode usar a sua humanidade sempre como desculpa. Viver é um jogo em que, às vezes, tirar o número um no dado é mais vantajoso que o seis. Este faz você ficar três rodadas sem jogar e aquele faz avançar algumas casas e lançar o dado de novo. Seguir em frente. Vivendo. Mas. Vivemos tempos de desamor. Querem todos os dados, todas as jogadas, todas as posições e quando encontram isso, não querem mais. Não era amor. Era só vontade. E ecoa na tradição que vontade dá e passa. Quando se ama algo, se preserva. Ninguém é perfeito. Ocorrerão falhas e tropeços no percurso. Mas se há a certeza, se há a confiança, se há a garra de vencer, o rosto lanhado pelo galho e o pé machucado na pedra, se tornam sorrisos. De dor. Porém sorrisos. Valeu a pena. E se não vale a pena, é porque não vale amar ou porque falta amor. Ah, o amor… O amor não precisa de descrição. Quando você encontra, sabe realmente e bem o que é. Não existe dúvida. Mas se, por acaso, existir, é porque o medo do verdadeiramente bom, de que as coisas podem dar certo, invadiu o seu peito. É algo tão intrínseco e forte que emana para o nosso exterior. Do simples tamborilar de dedos na mesa até um sorriso sem propósito ou sem necessidade. Teria algo melhor? E, sim, há pessoas verdadeiras. Há pessoas sinceras. E há pessoas que são boas. São aquelas que descobriram o ato de amar.
A coluna Palavra Jovem é publicada quinzenalmente em Mundo Leitura, toda quinta-feira. O autor, Severino Rodrigues, é escritor, professor e mestrando em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Destaque no Concurso Rubem Braga de Crônicas da Academia Cachoeirense de Letras, publicou pela Cortez Editora, em 2013, o suspense juvenil Sequestro em Urbana.
Deixe um comentário