#PALAVRAJOVEM
Crônica por Severino Rodrigues
Eles atravessaram como num desfile carnavalesco, exibindo alegria e os dentes.
Mas o sorriso não era bonito, aquele da tevê do comercial de pasta dental. Era o sorriso verdadeiro, sujo e sem alguns dentes.
Lá estava eu sentando no banco do carona, quando meu pai decidiu dar a vez aos pedestres que aguardavam para passar na faixa, embaixo à lombada eletrônica. Meu pai gosta de dar essa preferência, mas, às vezes, encontra relutância por parte dos motoristas ao lado.
O grupo, então, formado por trabalhadores da BR mesmo, identificáveis pelo uniforme de cor fosforescente e com seu material de reforma, incluso um carrinho de mão, atravessou, após esperarem um pouco até que pelo menos mais dois veículos seguissem o exemplo do meu pai, entre brincadeiras e sorrisos.
Já havia pensado nessa questão tempo atrás, mas não poderia seguir indiferente, no mundo da escrita, àquelas expressões. Não, não vou falar do favor. Mas dos dentes.
Parece que estamos numa era de transição ortodôntica. Saímos de um tempo em que muitos não tinham tanto acesso à inquietude da estética dentária para outro em que o sorriso branco e perfeito, resultado de aparelho corretor ou clareamentos, ultrapassa os liames da moda e é essencial a qualquer profissão, à vida.
Mesmo assim, não são poucas as pessoas que não tiveram oportunidade ou dimensão da necessidade desse cuidado com os dentes. Em geral, parece que esse quadro está mais atrelado àqueles que não obtiveram acesso seja a cuidados seja a informações no momento certo.
É uma questão social a saúde dos dentes.
E pensar que muitos não possuem um sorriso bacana, é pensar na desigualdade. Porque cárie é difícil em dente de nobre.
Aquele sorriso falho e amarelado dos trabalhadores é mais que ato corriqueiro. É um gesto da nossa desigualdade social.
Parece que estamos numa era de transição ortodôntica. Saímos de um tempo em que muitos não tinham tanto acesso à inquietude da estética dentária para outro em que o sorriso branco e perfeito, resultado de aparelho corretor ou clareamentos, ultrapassa os liames da moda e é essencial a qualquer profissão, à vida.
Mesmo assim, não são poucas as pessoas que não tiveram oportunidade ou dimensão da necessidade desse cuidado com os dentes. Em geral, parece que esse quadro está mais atrelado àqueles que não obtiveram acesso seja a cuidados seja a informações no momento certo.
É uma questão social a saúde dos dentes.
E pensar que muitos não possuem um sorriso bacana, é pensar na desigualdade. Porque cárie é difícil em dente de nobre.
Aquele sorriso falho e amarelado dos trabalhadores é mais que ato corriqueiro. É um gesto da nossa desigualdade social.
Mas, apesar de todas as preocupações, dificuldades e carências daquele grupo, as emoções singelas e sinceras de cada um não permitiam que o sorriso que perpassava todos eles se desfizesse.
A coluna Palavra Jovem é publicada quinzenalmente em Mundo Leitura, toda quinta-feira.
O autor, Severino Rodrigues, é escritor, professor e mestrando em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Destaque no Concurso Rubem Braga de Crônicas da Academia Cachoeirense de Letras, publicou pela Cortez Editora, em 2013, o suspense juvenil Sequestro em Urbana.
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