Texto destaque no VII Concurso Rubem Braga de Crônicas da Academia Cachoeirense de Letras – 2012

Estava caminhando pelo bairro no começo da noite quando ao lançar meu olhar para o lado esquerdo um menino de uns dois ou três anos parado na calçada sorriu para mim. Encabulado ou contente sorri de volta. Agora nem lembro mais ao certo quem estava com ele, mas recordo o pensamento que apareceu na minha cabeça na hora: será um futuro leitor meu.

Pode parecer estranho. Afinal de contas, o menino parece que não aprendeu a ler ainda. Mas qual ideia não é esquisita?

Às vezes, a inspiração chega e escrevo uma bela, acho, história. Às vezes, a inspiração chega, porém o resultado não me satisfaz. E, às vezes, a inspiração não chega e não escrevo. E tem casos também que mesmo sem nenhuma vontade, me obrigo a sentar em frente ao computador e quebrar um pouco a cabeça.

Independentemente de tudo isso acima, quem escreve, quer leitores. De preferência, o suficiente para viver bem e confortavelmente das linhas que digita na página em branco da tela. Quem eles serão? É impossível precisar. Se vão gostar dos livros? Aí, um problema que pode deixar um escritor praticamente careca.

Mas, voltando ao garoto, quem sabe, quando ele crescer e perceber que gosta bastante de ler, ao entrar numa biblioteca ou numa livraria despretensiosamente ou mesmo com algum título em mente, ele acaba achando um dos meus livros, desiste de levar aquele que o levara para lá e inicia no caminho de volta uma leitura que será marcante.

Ou, quem sabe, o menino detestará ver qualquer livro até certa idade, mas ao encontrar aquele texto que saiu das minhas mãos, ele mudará completamente de opinião e se tornará um devorador de livros. E o melhor, presenteará amigos, familiares e colegas de trabalho com as minhas obras.

Talvez seja esse mesmo o sonho de todo escritor: marcar de maneira inesquecível a cabeça e a vida do seu leitor. Voo bem alto! E uma responsabilidade tamanha, porém, creio que como todo sonho não conseguimos saber com exatidão o andamento futuro.

#PalavraJovem é a série de crônicas escrita por Severino Rodrigues e publicada semanalmente, todas as quintas-feiras, no Portal Mundo Leitura. Este pernambucano é autor dos juvenis de suspense: Sequestro em Urbana, 2013, e Mistérios em Verdejantes, 2015, livros publicados pela Cortez Editora.