Camilla Cahet
“Quando se escreve, nunca se escreve só com o que se tem de melhor. Escreve-se também com o que há de pior em cada um, o medo, o desconhecido”. A afirmação do jornalista e crítico literário, José Castello, durante o Fórum Literário Internacional, realizado em Maceió, reafirma a Literatura como uma arte subjetiva e independente do escritor e do leitor.
Para Castello, a Literatura adquiriu uma postura de resistência diante da realidade, não tendo como finalidade oferecer as respostas dos questionamentos, mas justamente o contrário, mostrar que nem tudo merece resposta diante da amplitude do mundo.
“A Literatura vai abrindo janelas, portas, caminhos, para mostrar que a realidade é pura convenção. Ela não é uma ciência que serve para oferecer as respostas, ela existe justamente para aumentar os questionamentos. Através dela percebemos a vastidão do desconhecido, e que o mundo é muito maior do que imaginávamos”, afirma.
Nesse mesmo contexto, Clarice Lispector já afirmou: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”. Para a escritora ucraniana, o bom texto literário não é o que tem apenas as boas sensações e experiências do escritor, é o que consegue expressar também as angústias e melancolias de quem escreve.
Na visão do crítico, nessa atividade solitária, o escritor se debruça na construção de uma obra que adquire vida própria e busca desencadear em cada leitor uma sensação diferente.
“Cada um lê como quer, como sente, como pode. É nessas infinitas possibilidades de leitura que a Literatura se fortalece. Engana-se quem pensa que a Literatura é coisa para profissionais. Ela é amadora mesmo. É como uma dança alternativa, onde todos podem ser bailarinos e dançar em seu próprio ritmo”.
José Castelo, o entrevistado do texto, é jornalista, escritor e colunista do suplemento Prosa & Verso, de O Globo. Autor de “Vinícius de Moraes: O poeta da paixão” (Companhia das Letras, 1993), livro vencedor do Prêmio Jabuti 1995 de Melhor Ensaio e Biografia.
Sobre o livro
Mestre do improviso, estrategista do coração, Vinícius de Moraes (1913-1980) deu forma quase perfeita a nossa experiência da paixão. Durante dois anos, o jornalista José Castello realizou centenas de entrevistas com as mulheres, os amigos, os parceiros do poeta; consultou milhares de páginas inéditas, no encalço de seu destino atribulado, repleto de surpresas e reviravoltas. O resultado é o retrato completo de um homem que encantou seus semelhantes, apaixonou-se além dos limites e procurou passar a vida em estado de poesia.
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