Claudia Lins
Ela adora uma roda de conversa e em sua companhia as palavras parecem correr ao ritmo elétrico de sua energia criativa. A pernambucana Lenice Gomes é uma das autoras infantis convidadas para a quinta edição da Bienal do Livro de Alagoas, dentro da programação do Sesc, e estará como mediadora e palestrante no espaço Palco Livro Aberto. Nesse bate-papo com o Portal Mundo Leitura, a escritora fala de seu mais recente lançamento, o livro Alecrim Dourado, e das oficinas que realiza formando multiplicadores da arte de contar histórias.
Mundo Leitura: Alecrim Dourado e outros cheirinhos do amor é o mais novo livro, ou já tem outro saindo do forno nesse momento?
Lenice Gomes: Sim, o mais recente e em coautoria com Giba Pedroza. Esse ainda está quente, mas têm outros no forno. Temos que esperar as programações das editoras. Mas, cabeça de autor está sempre fervilhando, além dos que vão sair, já tem um monte de ideias e histórias me pedindo um tempinho pra elas.
Mundo Leitura: Viajando de lá pra cá, feito cometa cruzando céu estrelado, estás sempre envolvida em novos projetos e com um gás de dar inveja a qualquer escritor iniciante. Agora mesmo, enquanto responde a essa entrevista, onde está e para onde vai?
Lenice Gomes: Estou em São Paulo, justamente para o lançamento de Alecrim Dourado, volta para Recife e, depois, estou viajando de novo. É cansativo, mas é também um prazer, pois essas viagens sempre me renovam. Às vezes, você é mais reconhecido fora do seu Estado e isso me incentiva em viajar e levar o meu trabalho. É bom ter seu trabalho reconhecido, mas o melhor ainda é ser respeitada em sua profissão.
Mundo Leitura: Você vive realizando oficinas para educadores e revelar a força das palavras e o poder da contação de histórias para o despertar do mágico poder da leitura, já faz parte do seu show. Acredita que o caminho para um mundo de leitores passa por aí?
Lenice Gomes: Por aí e por outros caminhos. Faz parte de mim esta maneira de abrir um desses muitos caminhos da leitura: contando histórias, incentivando vivências de contação para os professores. Não precisa ter apenas vínculo com a leitura, contar também cria um momento mágico, a leitura pode acompanhar. Eu diria assim: a leitura tem uma espécie de magia e a contação tem outra.
Mundo Leitura: Além de escrever e formar multiplicadores de leitura, ainda encontra tempo para fazer artes, como esse projeto que leva as pessoas ao teatro para celebrar o universo dos contadores. Fala um pouco dessa iniciativa e da Cia das Palavras Andarilhas! Como começou essa história?
Lenice Gomes: Cia Palavras Andarilhas era um desejo antigo meu, mas a parceria junto ao Teatro Joaquim Cardozo veio em 2010. Eu, Clenira Melo, Fabiana Móes e Glayson Gomes, fazemos o que se poderia chamar de parte fixa do Cia, pois contamos com o apoio de vários outros contadores do Estado, que sem prolabore aceitam participar das Noites de Histórias, realizadas todas últimas quinta-feira do mês. A proposta das Noites de Histórias (também agora em 2011) é criar laços entre os contadores da região e diálogos com contadores de outros Estados (muitos contadores vêm por amizade, já que ainda não temos um patrocínio). Dá uma trabalheira, mas as noites são sempre de encantamento e com um número cada vez maior de público. Acho que o primeiro objetivo da Cia Palavras Andarilhas foi alcançado, agora estamos com novas ideias para o próximo ano. Conseguimos nestes dois anos juntar contadores, dar oportunidade para muita gente boa mostrar seu trabalho, levar para o público entretenimento e conhecimento (também fazemos mesas com debates e bate-papos entre contadores e acadêmicos).
Mundo Leitura: Conta pra gente como surgiu a ideia de reuniu os amigos contadores para escrever o livro História de quem conta Histórias?
Lenice Gomes: Os contadores sempre se reúnem para contar histórias, então me veio a ideia por que não nos juntarmos num livro, e que cada um contasse as suas histórias através de um conto que lhes fosse marcante. Conversei com Fabiano Morais e colocamos mão na massa para convidar os contadores e organizar as histórias. O resultado foi maravilhoso.
Mundo Leitura: Quando criança, que leituras influenciaram a Lenice leitora. E o que mais gosta de ler hoje?
Lenice Gomes: Lenice menina (risos), eu gostava de ouvir minha mãe, de ouvir os cordelistas e repentistas nas feiras, e gostava de ler Lobato, contos de fadas. Hoje, gosto de estar atenta aos livros para crianças, tanto para conhecer o mercado (o que se produz), quanto por prazer de ler os textos, de sentir o cheirinho do livro, de ver as ilustrações. Mas, gosto muito de ler contos, poesia, principalmente de Ascenso Ferreira, Manuel Bandeira, Joaquim Cardozo, e tantos outros.
Mundo Leitura: Você lê muito literatura infantil e o que tem achado do que anda lendo?
Lenice Gomes: Eita pergunta delicada (risos). Compro e leio muito livros de literatura infantil. Não vou mentir e dizer que gosto de tudo que leio ou que vejo nas prateleiras para as crianças. Parece que há no mercado uma pressa, que gera um descuido e acaba gerando má qualidade. Sempre tenho dito que é preciso ser cuidadoso com o livro para crianças. Há apelos por todos os lados, apelos didáticos, apelos dos autores (como se escrever para este público fosse fácil), e você nunca sabe se o livro chegou nas mãos da criança pelas mãos dos pais, da imposição da escola, ou vontade da própria criança. Temos que diminuir a pressa e aumentar os cuidados.
Mundo Leitura: Sonhando com um país de leitores, não somente em números, mas em qualidade e intensidade, que ações ou iniciativas podem ajudar a tornar isso realidade?
Lenice Gomes: Seriam necessárias ações conjuntas, pois antes de formarmos leitores de literatura, precisamos alfabetizar corretamente as crianças e os jovens. E ainda é preciso sensibilizar para a sensibilidade (parece exagero) e isso se deve iniciar ao junto ao processo de letramento. Também não se adianta falar em iniciativas e ações isoladas quando não se consegue que haja vontade política para uma mudança real.
Mundo Leitura: As Bienais são importantes eventos para dar visibilidade a produção literária e projetar novidades do universo leitor, mas o livro é um organismo vivo, pulsando todos os dias, e não apenas a cada dois anos. Como acredita ser possível integrar essa cadeia produtiva, autores, editoras, contadores, fazendo da leitura um acontecimento o ano todo?
Lenice Gomes: Como vocês disseram as bienais têm objetivos específicos. Existem eventos literários ocorrendo o ano todo em diversas partes do país, nem todos possuem grande visibilidade. Acho que a proposta do Cia Palavras Andarilhas é um exemplo disso: muitas vezes, convidamos contadores que também são escritores e é um acontecimento que dura o ano todo. Existem outros exemplos, que vão de oficinas, formações, jornadas literárias até congressos, festas e cafés literários. Como no começo de nossa conversa, os caminhos são muitos.
Mundo Leitura: Antes de nos despedirmos, com o desejo de te reencontrar em breve, deixe pousar aqui um de seus lindos versos, ou trava-línguas, palavras encantadas, aquelas que quando falas nos hipnotiza e encanta! Deixo de presente esses versos da tradição popular:
Lenice Gomes:
Roseira, dá-me uma rosa,
Craveiro, dá-me um botão,
Menina, dá-me um abraço,
Que eu te dou meu coração.
Menina, se queres, vamos!
Não se ponha a imaginar
Quem pensa muito, cria medo
Quem tem medo não vai lá.
Você de lá e eu de cá
O ribeirão passa no meio
Você de lá dá um suspiro
E eu de cá, suspiro e meio.
Lenice, adotei seu livro ALECRIM DOURADO E OUTROS CHEIRINHOS DE AMOR com minha turma do Infantil II da ESCOLA AUTONOMIA, em Florianópolis SC e amanhã faremos o fechamento do PROJETO “CHEIRINHOS E SENTIMENTOS”. Faremos um musical poético com poesias do seu livro e músicas. Parabéns pelo lindo livro poético e todos nós nos apaixonamos pelas lindas palavras. Vamos homenagear seu trabalho com as palavras e estou muito feliz!! Você me ajudou muito! Obrigada!
Professora Tatianne
http://www.escolaautonomia.com.br