‘Espiritualização, instrospecção e relaxamento’

 

Um breve perfil da ilustradora alagoana Júlia Nogueira

Por Bruno Jaborandy

A sua relação com a pintura começou aos dez anos, quando ia acompanhar as aulas de pintura de sua mãe. Adorava observar as pessoas pintando, desenhando. Anos depois a paixão pelo desenho a fez escolher o curso de Arquitetura, no Cesmac. Cursou dois anos e meio e depois começou a sentir que as artes falavam mais alto em sua vida, e as matérias mais técnicas a aborreciam um pouco. Trancou a matrícula do curso e prestou vestibular para Design Gráfico onde se encontrou na ilustração. Júlia Nogueira afirma que já tinha o hábito de desenhar em tudo, “uma compulsão por riscar coisas”, diz. No curso de Design alguns professores abriram sua cabeça para como ela poderia utilizar aquele talento e aquela habilidade. Hoje ela não para de estudar e de ilustrar.
O traço da artista é carregado de uma suavidade e de uma inocência que remete ao universo infantil. Muitas cores, seres animados, árvores, passarinhos e elefantes. Suas obras em nanquim exploram diferentes formas, muito inspiradas na natureza, buscando recriar o desenhos de folhas e flores. Tudo muito bem elaborado e incrivelmente carregado de ternura.
Júlia teve a oportunidade, em maio desse ano, de expor suas obras favoritas na faculdade Maurício de Nassau. Com o nome Libertaire a exposição, que teve curadoria de Francisco Oiticica, mostra o belo trabalho da artista, que utiliza a técnica de naquin e aquarela sob mdf e papel vegetal. O portal mundo leitura conversou, via e-mail (já que os horários da jovem ilustradora são apertadíssimos) sobre sua referências, gostos e planos, sua visão da cena alagoana de ilustração, dentre outras coisas. Confira entevista:

Mundo Leitura: O que você achou da sua primeira exposição?

Júlia: LIBERTAIRE foi o primeiro passo, o nascer da coisa, foi exatamente isso que tentei transmitir com as fotos no tecido, todos os posicionamentos que fiz atrelam-se a essa ideia, de casulo, o nascer, algo que ainda está em construção, em fase de desabrochamento, mas que tem muito o que mostrar, e  e eu tô me descobrindo ainda nesse momento.. um pouco da Arquitetura que estudei, Ambientação, História da Arte, Design e todo referencial que eu busco mais atual, isso é o que tem me construído inicialmente. Outras exposições estão por vir, ainda esse ano. Estou fechando o semestre com mais uma exposição, só que dessa vez no teatro, algo mais maduro, e aí outras coisas irão surgir na medida que eu for me enriquecendo e evoluindo no meu convívio artístico, seja pessoal, seja profissional, tudo soma, e tudo é uma soma.

Mundo Leitura: É difícil conciliar estudo, trabalho e dedicação a pintura?

Júlia: Não muito, não tenho muito problema em conciliar por que meu horário favorito pra pintar é na madrugada, estudo pela manhã e trabalho a tarde, a noite me dou um pouco de descanso e mais tarde me concentro pra começar a criar, mas não são todos os dias que faço isso, por que eu só pinto quando estou me sentindo feliz, ou quando estou muito triste. Sentimentos fortes me motivam e me tornam ainda mais sensível pra pintar, então eu espero a coisa ‘vir’ primeiro, pintar pra mim é um momento de espiritualização, introspecção e relaxamento.

Mundo Leitura: Como você vê o cenário de ilustração em Maceió?

Júlia: Pouco diluído ainda, o que as pessoas aqui entendem e percebem sobre ilustração ainda é muito limitado, elas acham que ilustrar é rabiscar qualquer coisa e publicar, mal entendem a importância e o quanto a ilustração é complementar e auxiliadora pra anexar valor as coisas. Percebo um cenário tímido, mas que se abrirá a medida que nós, ilustradores, formos comunicando melhor com o público, penso que seja uma questão de tempo apenas.

Mundo Leitura: Me conta um pouco da sua relação com a moda.!

Júlia: Não tenho muita relação com a moda, hehe, o que acontece comigo é que adoro pesquisar e ver os referenciais de todo e qualquer tipo de artista, como se encaminham os processos criativos de cada um deles, a atmosfera, o que circunda e de onde surgiram as idéias, tive a sorte de conviver e ver nascer coleções de Larissa Nunes e Lucas Barros, que são dois queridos amigos que trabalham com moda aqui no estado, a partir da minha relação com eles fui introduzida um pouco mais nesse meio, e adoro, amo ver o processo criativo dos dois, eu aproveito para observar bastante e isso tem me acrescentado muito, se falando de arte, na verdade o ápice criativo dos estilistas, o destrinchar do conceito, de uma ideia, o modo como se utilizam da forma do corpo como base de criação, as texturas, os cortes e o caimento dos tecidos, o reflexo disso tudo projetado em uma coleção é o que verdadeiramente me encanta.

Mundo Leitura: Quais seus planos para o futuro?

Júlia: Bom, após terminar o curso, agora no final do ano, penso em passar um tempo em São Paulo. Tem uns cursos incríveis no Centro Universitário Belas Artes. Percebo que preciso adquirir uma visão de mundo maior pra poder me nortear, e visiono São Paulo, acho que a cidade em si me trará esse referencial de mundo que almejo, de lá pretendo ver realmente pra qual vertente vou partir, penso em trabalhar com diversas coisas, ilustração, estamparia, ambientação, instalações, intervenções artísticas, fotografia…  Mas quem faz de tudo um pouco não faz nada direito, né? Então quero me especializar, e, antes disso preciso de uma garimpada por aí, explorar e estudar é o que penso pro meu futuro, a partir daí as coisas irão fluindo e me direcionando.

Galeria de Júlia Nogueira


3 comentários

  1. Parabéns Júlia! Criatividade e Sucesso!

  2. Como sempre, ela arrazando nas matérias! Parabéns, Júlia, seus trabalhos são lindos.