O livro na mesa de cada um

Há muitos obstáculos a transpor para que o livro se torne um artigo de fácil acesso, de presença constante na realidade da maioria das pessoas. Mas seria possível sonhar com um país de leitores? Cada vez que alguém abre um livro, uma janela se abre nessa direção. Daí a importância de tornar a leitura um hábito presente no cotidiano de casa, do trabalho e, principalmente, da sala de aula.

Em contato com textos infantis e infanto-juvenis, as crianças e os adolescentes descobrem outros mundos abertos ao lúdico e à imaginação.  Os livros os transportam para reinos encantados e desencantados, onde podem habitar por alguns momentos e, dessa estada, alargar seu campo de visão de mundo e experimentar as mais variadas sensações.

Em Alagoas, a produção literária anda a todo vapor, sendo conduzida pelas mãos de escritores/as e ilustradores/as com estilos diferentes de contar suas histórias. A produção atual está aberta a diferentes interpretações, fugindo do moralismo e do didatismo que por muito tempo povoaram boa parte da literatura brasileira e universal feita para crianças.

Por aqui, a escrita de textos para os pequenos teve o caminho iniciado por nomes como Rosália Sandoval (Curso elementar de português, gramática infantil), Graciliano Ramos (A terra dos meninos pelados), Hildebrando de Lima (Lições do tio Emílio) e Judas Isgorogota (Um pirralho na floresta, Sapatinhos de prata). No entanto, tendo esses autores consolidado sua trajetória em outros Estados do Brasil, suas obras, à exceção da criação do Mestre Graça, ficaram, praticamente, desconhecidas pelas novas gerações.

Décadas depois, nos anos 90, surge um divisor de águas: a aparição da escritora Ruth Quintella. O conjunto de sua obra inaugura e melhor representa a fase contemporânea de nossa literatura infantil. A autora vive numa inquietude permanente, utilizando a experiência adquirida ao longo do tempo como educadora para disseminar o prazer de ler, assumindo, simultaneamente, os papéis de autora, ilustradora e contadora de histórias.

Daí por diante, novos fios coloridos vão se tecendo na grande renda de palavras e imagens de nossa literatura. Fazem parte desse enredo as autoras Fátima Maia, Luciana Fonseca, Cleo Soares, Socorro Cunha, Simone Cavalcante, Marijôse Albuquerque, Juanina Ribeiro, Claudia Lins, Regina Barbosa, Isvânia Marques, Maristela Pozitano, Eliana Maria, Luana Teixeira, Adélia Souto, Geisa Andrade, Sara Albuquerque; os autores Leonardo Pimentel, Tiago Amaral, Ricardo Cabús, Luiz Alberto Machado, Diógenes Tenório, Daniel Libardi; e os ilustradores Pedro Lucena, Weber Salles, Ddaniela Aguilar, Eduardo Menezes, Paulo Caldas, Yuri Ávila, Nataska Conrado, Wagner Bagetti, Vick, Claudio Jorge.

Alguns títulos circulam em livrarias fora de Alagoas, já que levam selos de editoras regionais e nacionais. Outros contam com o apoio de editais, como o projeto Trem das dez, idealizado pela ONG Teteia e patrocinado pelo BNB e o BNDES, que distribuirá 3500 exemplares de livros infantis da produção local em escolas de Maceió e Marechal Deodoro, e a coleção Coco de Roda, patrocinada pela Imprensa Oficial do Estado. Por outro lado, seja pela atuação dos autores ou pelo trabalho de divulgadores e distribuidores, a maioria dessas obras vem tomando lugar nas salas de leitura, bibliotecas e brinquedotecas de escolas públicas e privadas. A fixação do livro nesses espaços acontece, sobretudo, pelo empenho de alguns educadores que organizam horas do conto, bate-papos com escritores e projetos com finalidade pedagógica, assumindo o papel de mediadores de leitura.

Sem dúvida, a literatura infantil e infanto-juvenil de Alagoas, para sobreviver enquanto produto cultural, precisa do educador como uma história exige um protagonista. As famílias, as políticas públicas e as organizações não governamentais respondem também pelo incentivo à leitura, mas são os educadores e as educadoras que possuem em maior quantidade o pó do encantamento da leitura. Eles fazem a diferença na construção de uma nova realidade em que o livro, longe de ser objeto de luxo, aparecerá como um item a mais na cesta básica do alagoano.