Eu fui “Pro” por 5 dias e levo essa experiência para sempre em meu coração…
Na última semana vivenciei ao lado de uma turma bastante especial de estudantes do ensino médio da Escola Joaquim Fagundes dos Reis, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, uma das jornadas mais intensas e inspiradoras de minha carreira como criativa literária. E reafirmei minha fé na escola pública como instituição de ensino capaz de produzir talentos e cidadãos críticos diante da vida e do mundo.
“Pro” é como são chamados os professores, educadores no Rio Grande do Sul, e foi maravilhoso ser a “pro” dessa garotada tão sedenta de oportunidades para celebrar seus dons criativos. Eles me acolheram como alguém apto a conduzi-los pelos caminhos da escrita e optamos por construir juntos uma viagem nada careta, sem regras ou metas a serem atingidas. Todos os dias, as rotinas foram acontecendo a partir de desafios criativos e da troca de vivências, minhas, como autora de Literatura Infantojuvenil, e deles, como seres dispostos a ler o mundo, o outro e a própria vida.
Para essa turma especial, toda minha gratidão pela jornada de trocas e partilhas, e algumas anotações para marcar essa experiência nas páginas do livro do tempo. E em nossas memórias, claro, pois elas são as melhores guardiãs do que foi, é e para sempre será.
Assista aos VÍDEOS dos depoimentos!
Diário de Experiências – Oficina Criativa de Escrita – Claudia Lins
23 de abril – segunda-feira
Nosso primeiro encontro foi marcado por conexões e sentimentos. Eles trouxeram vivências de suas famílias, textos que evocaram pessoas, lugares e momentos especiais. Começamos a tecer o fio mágico das lembranças que ditam histórias.
24 de abril – terça-feira
Incrível perceber os talentos desses jovens. Turma super conectada, sensível e disposta a embarcar no universo de possibilidades criativas. Assistimos aos vídeos dos autores Jonas Ribeiro (SP) e Tiago Amaral (AL) falando de seus processos criativos, levamos para casa provocações e exercícios que nos conectaram aos nossos próprios caminhos de criatividade.
25 de abril – quarta-feira
Gente nova que chega, novos olhares e percepções. A música é presença na vida de alguns, está na pele, na roupa e no cabelo, especialmente na rebeldia de Ser. Dramaturgos se revelam, Ezequiel, Davi, Artur, Eduarda B e muitos outros… Monólogos, textos críticos, acidez, crônicas… Hoje criamos biografias ancestrais e ficcionamos cartas de nossos descendentes do futuro sobre nosso eu do passado. Surgiram conexões maravilhosas! Eita povinho criativo!
Feliz demais com essa turma! Lembro aqui a frase escrita em nosso diário de papel da oficina, por minha xará Claudia, a Claudia Bronca, olhos brilhantes diante da vida, escrita afiada para interpretar o mundo. E um talento musical que eu só descobriria no último dia… Foi ela quem escreveu: “Se eu pudesse ler para todos as minhas inspirações pelo resto do ano como fazemos aqui para pessoas que realmente escutam, eu faria”.
Assista aos VÍDEOS dos exercícios e melhores momentos!
26 de abril – quinta-feira
Dois dias para acabar a oficina e eu amando estar na companhia desses jovens. Reconstruí ideias, criei novas possibilidades, vou levar uma vida para a sensação de tudo isso passar… De repente, música virou poesia, poesia virou música e virou história. Notícias de jornal se transformaram em textos de ficção. Foi tão legal compartilhar da empolgação deles… Não resisti a levar para casa o texto de Eduarda que contava as memórias de uma árvore quilombola, tema que ela leu numa reportagem de jornal.
Para amanhã combinamos uma confraternização, todos estão animados. Como DESAFIO CRIATIVO cruzamos olhares fotografando para compor legendas e estrofes poéticas inspiradas em haicais e aldravias. As fotos foram feitas com os celulares deles.
27 de abril – sexta-feira
Puxa, passou tão rápido, mas foi tudo tão intenso… Vou levar cada momento dessa semana comigo. Um monte de fotos para postar, vídeos lindos para editar, nem sei se dou conta. Meu celular não ajudou muito, mas vocês brilham de qualquer jeito.
Hoje alguns trouxeram suas músicas favoritas e ensaiaram para cantar com o grupo. O Cássio Borges, parceiro do Sesc e peça fundamental no sucesso da oficina, levou o violão e mandou superbem. Até leu um texto que ele criou especialmente para falar do quanto foi empolgante participar dessa experiência e descobrir tantos talentos entre pessoas tão jovens.
Deixei postais literários com mensagens do meu coração para cada um dos participates. Pena que alguns não seguiram conosco até o fim. Laura não veio hoje, ontem estava com dor de cabeça, a Beatriz adoeceu, o Elber mudou de escola, Bruno Medina não apareceu com seu vozeirão, e a menina dos lacinhos, Jéssica, também faltou. Dos 26 que começaram na segunda-feira, 19 seguiram até o último dia.
A sexta foi muito intensa. Não pensei que daríamos conta de tanto numa manhã… Eduarda Basso criou arte para o exercício da caixa mágica de palavras, a “pro” Deise, que nos acompanhou a semana inteira, criou molduras para as fotos e para os textos, cuidou da montagem do mural com as meninas: Yngrid, Stéffany, Maria Paula, Hellen, Ana Rita, Kauana, a outra Eduarda…
O Cássio cuidou das impressões dos textos e das músicas, Stéffany organizou a mesa de delícias e todos trouxeram um pratinho especial (o Davi e o João Vítor até cozinharam). Ficou tudo uma lindeza!
Quase que a sessão de vídeos não saiu porque o projetor da escola encrencou, mas o Wodson, “meu caro Wodson”, deu um jeito de fazer o aparelho funcionar. E, apesar dos ruídos, conseguimos assistir a Ddaniela Aguilar contar como acontece o seu processo criativo de imagens e a Claudia Souza, lá da Itália, nos falar sobre como é escrever para crianças.
Ainda deu tempo de compartilharmos a leitura de alguns textos dos últimos desafios criativos. Os mais ávidos por compartilharem seus textos, leram as narrativas infantis que criaram na véspera, em suas casas. E construíram na hora story boards para as cenas como se imaginassem ilustrações para suas histórias. Os textos eram para ter no máximo 10 linhas, mas teve quem se empolgasse e escrevesse praticamente um livro…
Leonardo e David, os cabeludos e seus violões, da banda Casa de Bonecas, sonorizaram os momentos finais desse incrível encontro. Cantamos versos de Legião Urbana e eu me senti aos 18 anos cantando Tempos Perdidos.
“Somos todos tão jovens”
E não importa o tempo, a distância ou o que disserem. Somos criativos e podemos expressar nosso talento para o mundo. Ver poesia em tudo o que é e será. E a boa história, o bom texto, nunca estará preso a um tema ou classificação etária. História não tem idade. E jovem sabe sim escrever LIJ ou qualquer outro estilo literário que deseje compor.
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Já estou com saudades!